Banco e moeda locais ampliam crédito financeiro de pequenos comerciantes de Igaci

Por Redação com g1 01/10/2017 11h11 - Atualizado em 01/10/2017 15h03
Por Redação com g1 01/10/2017 11h11 Atualizado em 01/10/2017 15h03
Banco e moeda locais ampliam crédito financeiro de pequenos comerciantes de Igaci
Foto: Jonathan Lins / G1
m levantamento do Instituto Data Popular estima que mais de 55 milhões de brasileiros não possuem, por questões socioeconômicas ou devido a processos burocráticos, qualquer tipo de conta bancária. Neste grupo estão cerca 53% da população do Nordeste.

Foi por causa do número alto de pessoas que não possuem sequer uma conta corrente ou poupança que surgiram o Banco Comunitário Olhos D’água e a moeda social Terra em Igaci, município do Agreste alagoano com pouco mais de 25 mil habitantes.

Implantando em 2016, o projeto de economia solidária foi desenvolvido por meio de uma parceria entre as universidades federais de Alagoas e da Bahia e a associação de agricultores do município. O objetivo é facilitar o acesso a microcrédito, educação financeira, circulação de moedas e o apoio ao comércio local.

"Aqui todo mundo trabalha com a moedinha [Terra]. Recebemos e passamos troco com ela. Também fazemos compras e pagamos com a moedinha", diz a agricultura e feirante que vende feijão verde, hortaliças e almoço na feirinha, Elisangela Bezerra.

O Banco Olhos D'Água disponibiliza crédito para famílias de baixa renda movimentarem pequenos negócios. O recurso é repassado em duas moedas Real ou Terra, que possuem valores equivalentes. Porém, a Terra possui circulação restrita no município contribuindo assim para o fortalecimento da economia local.

Com 80 projetos de financiamentos de créditos já aprovados em pouco mais de um ano de funcionamento e com 22 estabelecimentos comerciais conveniados a receberem a moeda Terra, o Banco Comunitário já movimenta quase R$ 50 mil no pequeno município que possui um PIB Municipal avaliado em pouco mais de R$ 153 mil.

“À primeira vista, o valor da movimentação financeira do Banco Comunitário parece ser pequena. Porém, ao levarmos em consideração indicativos sociais e educativos, conseguimos perceber a importância da experiência para a inclusão de famílias no sistema financeiro e para desenvolvimento econômico”, expõe o coordenador da Incubadora Tecnológica de Economia Solidária da Universidade Federal de Alagoas (Ites-Ufal), Leonardo Leal.

Leal explica que a experiência do Banco Comunitário foi implantada em Igaci por conta do potencial associativo do lugar, que possui mais de 30 associações comunitárias de atividades ligadas a terra.

“Com isso, a moeda Terra circula tanto em estabelecimentos comerciais fixos, a exemplo de mercados e farmácias, na feira semanal e entre os comerciantes e produtores rurais”, explica Leal.

Terra na mão é dinheiro no bolso

A cada dia, a circulação da moeda Terra, que possui notas físicas de 0,50; 1; 2; 5 e 10, passar a ser incorporada com naturalidade nas transações do comércio de Igaci.

No município onde a maior parte da atividade econômica está vinculada à agricultura, Terra na mão é sinônimo de dinheiro no bolso.

"Hoje, cerca de 15% das nossas vendas são pagas com a moeda Terra. Pra gente, receber Real ou Terra é indiferente. O importante é vender. No entanto, a circulação da Terra reduziu de forma significativa o fiado. Ou seja, é melhor receber em Terra, que é igual a Real, do que colocar a venda no caderno de fiado", relata a gerente da farmácia Vitória Santos.

Na feira de produtos orgânicos a Terra está na mão e no bolso dos comerciantes e agricultores, que se orgulham em negociar com a moeda de circulação local.
O Banquinho [Banco Comunitário] e a moedinha são um orgulho pra gente. Levo a moedinha pra tudo que é lugar e as pessoas ficam curiosas porque só conhecem Real", diz Elisangela Bezerra.

A conversão de Terra para Real

Para fazer a transação comercial com a moeda Terra, o comerciante precisa assinar um contrato com o Banco Olhos D'água. Só assim é possível converter a Terra em Real. E apesar dos valores serem equivalentes, alguns comerciantes, de olho na fidelidade dos clientes, acabam oferecendo descontos para a compra com a moedinha.

A agente de crédito do Banco Olhos D'água, Valdiene Pereira, explica que a conversão da moeda é simples, sendo necessário somente os comerciantes informarem um dia antes quanto pretendem converter de Terra para Real.

"Só eles podem fazer essa conversão. Aos consumidores, cabe apenas a circulação da moeda pagando e recebendo troco", diz ao enfatizar que a moeda local possui vários itens de segurança que impedem a falsificação, mas que o relacionamento de confiança entre os envolvidos nas transações é o que vale.

A Terra é lançada no mercado local a partir de microcréditos oferecidos aos agricultores vinculados às associações agrárias. O dinheiro é disponibilizado ao cliente de duas formas: em Terra e Real, que pode ser acessado de forma virtual (crédito) e em moeda física.

Diferente de um banco tradicional, o banco comunitário possui um grupo gestor formado por pessoas da comunidade, que avaliam os créditos disponibilizados diante de critérios técnicos e sociais.

"Entre a avaliação para disponibilização de crédito estão as condições de endividamento do cliente e a viabilidade do investimento. Os créditos são educativos e tem como finalidade ajudar no desenvolvimento econômico das famílias", completa Valdiene.

O recurso para implantação do projeto do Banco Comunitário foi disponibilizado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho, do Governo Federal.